(José Bonifácio e Martins Francisco de Andrada e Silva – O Primeiro é o Patriarca da Independência do Brasil, o segundo seu irmão, político e parlamentar famoso. Ambos nasceram em Santos).
A propósito da pobreza dos Andradas, conta Antônio Meneses Vasconcelos de Drummond o seguinte fato:
Os ministros da regência de dom Pedro reduziram seus ordenados pela metade do que eram no tempo de dom João VI. Ficaram com quatro contos e oitocentos mil-réis anuais, pagos mensalmente.
José Bonifácio, recebendo quatrocentos mil-réis em notas de banco, um mês de seu ordenado, colocou-os no fundo do chapéu, e no teatro roubaram-lhe o chapéu e o conteúdo.
O primeiro ministro do império achou-se, no dia seguinte, sem ter com que mandar comprar o jantar. Não possuía um vintém sequer, e seu sobrinho Belchior Fernandes Vieira, foi quem pagou as despesas do dia.
Em conselho, José Bonifácio referiu esta ocorrência e a extrema necessidade a que ela o reduzia, e à sua família. O imperador entendeu que o ministro, visto a penúria em que se achava, devia ser indenizado, pagando-se-lhe outro mês de ordenado, e, nesse sentido, deu suas ordens ao ministro da Fazenda.
Martins Francisco [irmão de Bonifácio], pois era ele o ministro, não obedeceu. Disse ao imperador que não havia lei que pusesse a cargo do Estado os descuidos dos empregados públicos, que o ano tinha para todos doze meses, e não treze para os protegidos. Finalmente, pediu que sua Majestade retirasse a ordem, porque era inexeqüível. Ele, Martins Francisco repartiria com o irmão o seu ordenado e viveriam ambos com maior parcimônia durante aquele mês, o que seria melhor do que dar ao país o funesto exemplo de que se paga a um ministro duas vezes o ordenado de um só mês.
(LACERDA, Nair. Grandes Anedotas da História. São Paulo, SP, Cultrix, 1977)
A história que temos acima é um exemplo de honestidade política e solidariedade familiar. O ministro da Fazenda negando-se a fazer um favorzinho para o irmão, também ministro, e mais, era até mesmo justificável, já que o salário de José Bonifácio fora roubado. E mais ainda, o próprio Imperador fez o pedido da misericordiosa “maracutaia”. Mas, Martins foi resoluto: “o ano tinha para todos doze meses, e não treze para os protegidos”. Veja bem, na monarquia não deveria haver benefícios para protegidos ou amigos dos governantes, quanto mais na nossa atual dita República Democrática! Falta-nos hoje essa honestidade, que vê a todos os cidadãos como iguais. Falta-nos uma classe política que busque a felicidade genérica e coletiva, e não a felicidade particular e mesquinha.
Centenas de anos depois, agora na modernidade e pleno desenvolvimento político democrático do Brasil republicano temos a seguinte noticia:
10/03/2009 - 02h30
No recesso, Senado paga hora extra para 3.883 funcionários
da Folha Online
O Senado pagou pelo menos R$ 6,2 milhões em horas extras para 3.883 funcionários em janeiro, mês em que a Casa estava em recesso e quando não houve sessões, reuniões e nenhuma atividade parlamentar, informa reportagem de Adriano Ceolin e Andreza Matais, publicada nesta terça-feira pela Folha.
A autorização do pagamento foi feita pelo senador Efraim Morais (DEM-PB) três dias antes de ele deixar o comando da primeira-secretaria, órgão da Mesa Diretora responsável pela gestão administrativa.
Além da hora extra, a direção da Casa concedeu reajuste de 111% no benefício. O teto subiu de R$ 1.250 para R$ 2.641,93.
Outro lado
Presidente do Senado até janeiro, quando foi dada a ordem para o pagamento das horas extras, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) disse que não foi consultado sobre a medida e que iria tomar satisfação do senador Efraim Morais (DEM-PB). "Eu não estava sabendo. Realmente não sei como justificar isso", afirmou.
Para o senador Tião Viana (PT-AC), primeiro vice-presidente da Casa até janeiro, o que ocorreu "é muito grave". Ele disse que irá averiguar se os funcionários do seu gabinete pessoal foram beneficiados para tomar providências.
"Isso não poderia ter ocorrido porque não houve trabalho extra em janeiro e não poderia ter havido pagamento", afirmou.
(do site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u531995.shtml)
SERÁ QUE A HONESTIDADE FICOU NO PASSADO?
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