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incêndio de Roma



Perseguição sob Nero


Nero chegou ao poder em outubro de 54, graças às intrigas da mãe Agripina, que não vacilou ante o assassinato em seus esforços para assegurar a sucessão do trono em favor de seu filho. A principio Nero não cometeu os crimes pelos quais depois ficou famoso. Ainda mais, varias das leis dos primeiros anos de seu governo foram de beneficio para os pobres e os despojados. Mas pouco a pouco o jovem imperador se deixou levar pelos seus próprios afãs de grandeza e poder, e por uma corte que se desdobrava por satisfazer seus mínimos caprichos. Dez anos depois de chegar ao trono, Nero já era desprezado por boa parte do povo, e também pelos poetas e literatos, a cujo número Nero pretendia pertencer sem ter os dons necessários para isso. Todos se opunham a sua vontade, ou morriam misteriosamente, ou recebiam ordens de se suicidar. Quando a esposa de um amigo lhe agradou, simplesmente enviou seu amigo a Portugal, e tomou a mulher para si. Todos estes fatos – e muitos rumores – corriam de boca em boca, e faziam com que o povo sempre esperasse o pior de seu soberano.


busto de Nero


Assim estavam as coisas quando, na noite de 18 de julho do ano 64, estalou um enorme incêndio em Roma. Ao que parece, Nero se encontrava na ocasião, em sua residência de Antium, a umas quinze léguas de Roma, e assim que se soube o que sucedia correu a Roma, onde tratou de organizar a luta contra o incêndio. Para os que haviam ficado sem refúgio, Nero fez abrir seus próprios jardins e vários outros edifícios públicos. Mas tudo isso não bastou para afastar as suspeitas que logo caíram sobre o imperador a quem muitos já tinham por louco. O fogo durou seis dias e sete noites e depois voltou a se acender em diversos lugares por três dias mais. Dez dos catorze bairros da cidade foram devorados pelas chamas. Em meio a todos seus sofrimentos, o povo exigia que se descobrisse o culpado, e não faltava quem se inclinasse a pensar que o próprio imperador havia ordenado o incêndio da cidade para poder reconstruí-la a seu gosto, como um grande monumento a sua pessoa. O historiador Tácito, que provavelmente se encontrava em Roma conta vários dos rumores que circulavam, e ele mesmo parece dar a entender a sua opinião, pelo qual o incêndio havia começado acidentalmente num depósito de azeite.


Mas, cada vez mais as suspeitas recaíam sobre o imperador. De acordo com os rumores, Nero havia passado boa parte do incêndio no alto da torre de Mecenas, no cume do Palatino, vestido como um ator de teatro, tangendo sua lira e cantando versos acerca da destruição de Tróia. Logo começou a propalar-se que o imperador, em seus desatinos de poeta louco, havia incendiado a cidade para que o sinistro lhe servisse de inspiração. Nero fez todo o possível para afastar as suspeitas de sua pessoa. Mas todos seus esforços seriam inúteis enquanto não se fizesse recair a culpa sobre outro. Dois dos bairros que não haviam queimado, eram as zonas da cidades em que havia mais judeus e cristãos. Portanto, o imperador pensou que seria mais fácil culpar os cristãos.


O historiador Tácito, parecia crer que o fogo fora acidente, portanto, a acusação feita contra os cristãos seria falsa. Ele mesmo nos conta o sucedido:


DOCUMENTO:


“Apesar de todos os esforços humanos, da liberalidade do imperador e dos sacrifícios oferecidos aos deuses, nada bastava para apartar as suspeitas nem para destruir a crença de que o fogo havia sido ordenado. Portanto para destruir esse rumor, Nero fez aparecer como culpados os cristãos, uma gente odiada por todos por suas abominações, e os castigou com mui refinada crueldade. Cristo a quem tomam o nome, foi executado por Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério. Detida por um instante essa superstição daninha pareceu de novo, não somente na Judéia, onde estava a raiz do mal, mas também em Roma, esse lugar onde se narra e encontram seguidores de todas as coisas atrozes e abomináveis que chegam desde todos os rincões do mundo. Portanto, primeiro foram presos os que confessaram (ser cristão), e baseada nas provas que eles deram foi condenada uma grande multidão, ainda que não os condenaram tanto pelo incêndio mas sim pelo seu ódio à raça humana” (TÁCITO, Anais, 15:44).



martírio dos cristãos


Essas palavras de Tácito são valiosíssimas, pois constituem um dos mais antigos testemunhos que chegam até nossos dias do modo como os pagãos viam os cristãos. Ao ler estas linhas, torna-se claro que Tácito não cria que os verdadeiros culpados de terem incendiado Roma fossem os cristãos. Ainda mais a “refinada crueldade” de Nero não recebe sua aprovação. Mas ao mesmo tempo, esse bom romano, pessoa culta e distinta em sua época, crê muito do que dizem os rumores acerca das “abominações” dos cristãos, e de seu “ódio pela raça humana”. Tácito e seus contemporâneo não nos dizem em que consistiam essas “abominações” que supostamente praticavam os cristãos. Temos que esperar até o século segundo para encontrar documentos em que descrevem esses rumores maliciosos. Mas seja o que for, o fato é que Tácito crê nesses rumores, e pensa que os cristãos odeia a humanidade. Isso se compreende se recordarmos que todas as atividades da época – o teatro, o exército, as letras, os esportes, etc. – estavam tão ligados ao culto pagão quer os cristãos se viam obrigados a se ausentarem delas. Portanto, diante dos olhos de um pagão que amava sua cultura e sua sociedade, os cristãos pareciam ser misântropos que odiavam toda raça humana.


Moeda com a efígie de Nero


Mas Tácito prossegue, contando-nos o sucedido em Roma por causa do grande incêndio:


DOCUMENTO:


“Além de matá-los (aos cristãos) fê-los servir de diversão ao público. Vestiu-os em peles de animais para que os cachorros os matassem a dentadas. Outros foram crucificados. E a outros acendei-lhes fogo ao cair da noite, para que a iluminassem. Nero fez que se abrissem seus jardins para esta exibição, e no circo ele mesmo ofereceu um espetáculo, pois se misturava com as multidões, disfarçado de condutor de carruagem, ou dava voltas em sua carruagem. Tudo isso fez com que despertasse a misericórdia do povo, mesmo contra essas pessoas que mereciam castigo exemplar, pois via-se que eles não eram destruídos para o bem público, mas para satisfazer a crueldade de uma pessoa” (TÁCITO, Anais 15:44)


Uma vez mais, vemos que esse historiador pagão, sem mostrar simpatia alguma com pelos cristãos, dá a entender que o castigo era excessivo, ou ao menos que a perseguição teve lugar, não em prol da justiça, mas por capricho do imperador. Além disso, nestas linhas temos uma descrição, escrita por uma pessoa que não foi cristã, das torturas a que foram submetidos aqueles mártires.


Os Remorsos de Nero após matar sua mãe, por John William Waterhouse, 1878.



O texto acima faz parte do livro, do conceituado historiador, Justo Gonzalez, “A Era dos Mártires”, pp. 52 – 57.


GONZALEZ, Justo. A Era dos Mártires. São Paulo, Vida Nova, 1991.

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