Teologia: A Fala de Deus.
Por Edson Maciel
"Todo homem é um filósofo" (Gramsci)
O
axioma acima é irrefutável! Mesmos tendo sido pronunciado por alguém alheio a
Palavra de Deus. Afinal todo ser que pensa, que tem habilidade racional e
intuitiva, que pode desenvolver –se cognitivamente é, por excelência, filósofo.
Se filosofia, por definição, é amor ao saber ou amigo do saber, (Φιλοσοφία), logo todo ser pensante e por consequencia aprendente,
pois quen pensa tende a aprender com o resultado de sua equação mental, por
isso todo homem é um filosofo. Tomemos o exemplo biblico bem corriqueiro:
Lucas 12:54-56 – “Dizia também às multidões: Quando vedes subir uma
nuvem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva; e assim sucede; e quando vedes
soprar o vento sul dizeis; Haverá calor; e assim sucede. Hipócritas, sabeis
discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?
De
acordo com a fala de Jesus o grande problema do homem, em particular de seus
seguidores, é o de saber discernir. Podemos ter como base também os escritos de
Salomão em Eclesiastes. Vejamos:
Eclesiastes 3:1-8 – “Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para
todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de
plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de
curar; tempo de derribar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir;
tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de
ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar; tempo de
buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de
rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de
amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Tanto
Salomão quanto Jesus alertam para a sabedoria popular. A vivência, o tempo, uma
postura inteligente de se viver faz com que consigamos aprender a “prever”
determinadas situações e, então, preparar-se para as circunstancias advindas.
Porém
a grande questão é, para nós cristãos, aprender a discernir as coisas de Deus.
Será possível “aprender” a discernir. Provavelmente não e sim. Afinal
discernimento além de ser uma arte humanamente possível, pois a arte de
raciocinar, como vimos nos exemplos bíblicos acima, nos permite prever
determinados acontecimentos. Mas discernir também é um dom dado pelo Espírito
Santo (1 Co 12:10b).
O
pressuposto nosso é: pensar teologicamente. Tendo como premissa que o termo
teologia o conceito de “o que Deus esta falando”. Por definição, optamos por A.
H. Strong, que diz: “Teologia é a ciência de Deus e das relações
entre Deus e o universo”.
O
que queremos dizer com “pensar teologicamente” é, portanto, buscarmos bases
firmes, alicerces bem fundamentados para entendermos o propósito divino para
nossas vidas. Ou melhor dizendo, viver de forma inteligente para Deus
proporcionará uma relação saudável entre nós e Deus. É a bússola, o norte, o
referencial já temos, a saber: A Bíblia Sagrada. A Palavra de Deus inerrante e
infalível. Tendo estes pressupostos em mente podemos concluir então que:
1
– Sou um ser pensante: consigo raciocinar e buscar soluções para um viver
melhor.
2
– Sou um ser religioso: consigo me relacionar com Deus, o criador de todas as
coisas, por isso preciso usar minha capacidade de reflexão para que este
relacionamento seja desenvolvido de forma saudável e sempre de aproximação.
3
– Sou um ser aprendente: posso desenvolver minha capacidade pensante e
religiosa de forma positiva e construtiva, contribuindo para um viver melhor
meu e de meus semelhantes.
Teologia se faz com
Raciocínio
Vamos
Raciocinar com Lógica! Isso é fácil de se dizer, e até mesmo de se praticar.
Contudo, quando alguém diz que se deve raciocinar com lógica, o que de fato
esta querendo dizer, ou melhor dizendo, como fazer isso? Basicamente existem
dois tipos de raciocínio lógico: O DEDUTIVO
e o INDUTIVO. O indutivo é comumente
usado pelos sistemas religiosos, mesmo entre as Igrejas tradicionais, pois é
dai que se formulam as chamadas doutrinas, e dai que se elaboram os famosos
Regimentos Internos (R. I.); é também a partir de raciocínios indutivos que se
originaram sétimo Dia, Igreja da Unificação, Mórmons e, porque não dizer a
Congregação Cristã no Brasil. Em geral tais grupos formam um seleto grupo de “especialistas”
que elaborarão suas chamadas “doutrinas” elementares. E seus adeptos não
necessitarão lerem mais nada, pois o que precisam saber já esta produzido por
seus “especialistas”, pelo que os Testemunhas de Jeová denominam de: Escravo
Fiel e Discreto ou Corpo Governante. A indução, neste caso, tem por base o
texto contido em Mateus 24:45-47:
Quem é
realmente o escravo fiel e discreto a quem o seu amo designou sobre os seus
domésticos, para dar-lhes o seu alimento no tempo apropriado? Feliz aquele
escravo, se o seu amo, ao chegar, o achar fazendo assim! Deveras eu vos digo:
ele o designará sobre todos os seus bens.
Quem
não gostaria de ser este quem Jesus se refere? É tentadora a ideia de aplicar a
si mesmo ou a um grupo, (de preferência o nosso), de ser ou sermos os
detentores da verdade ultima. Tentador é deveras perigoso. Pois a lógica
indutiva tem as seguintes características:
Método indutivo é aquele que parte de questões
particulares até chegar a conclusões generalizadas. Este método
é de raciocinar é precário, por não permitir a quem dele se utiliza uma maior
possibilidade de criar novas leis, novas teorias.
Outra forma de raciocinar é usando a lógica dedutiva. A
diferença é fundametal, principalmente nas conclusões. E para nós que buscamos
ler, entender, interpretar, analisar para aplicar na vida ora chamamos de
cristã, a exegese, para ser mais confiável, deve ter premissas que não deixem
parametros para dúvidas. Óbvio que a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4:1)
ea leitura de forma sistemática e buscando sempre uma interpretação que seja
mais próxima possível da inteção do autor e da vontade de Deus. Portanto:
“Método dedutivo é a modalidade de raciocínio lógico que
faz uso da dedução para obter uma conclusão a respeito de determinada(s) premissa(s).
A indução
normalmente se contrasta à dedução. Essencialmente, os raciocínios dedutivos se
caracterizam por apresentar conclusões que devem, necessariamente, ser
verdadeiras caso todas as premissas sejam verdadeiras.
Possui base racionalista e pressupõe que apenas a razão
pode conduzir ao conhecimento verdadeiro. Partindo de princípios reconhecidos
como verdadeiros e inquestionáveis (premissa maior), o pesquisador estabelece
relações com uma proposição particular (premissa menor) para, a partir de
raciocínio lógico, chegar à verdade daquilo que propõe (conclusão).”[1]
Basicamente
a diferença entre as duas formas de se raciocinar é:
“A lógica diferencia duas classes fundamentais de
argumentos: os dedutivos e os indutivos. Os argumentos dedutivos são aqueles
que as premissas fornecem um fundamento definitivo da conclusão, enquanto nos
indutivos as premissas proporcionam somente alguma fundamentação da conclusão,
mas não uma fundamentação conclusiva, identificando dessa maneira os conceitos
de dedução e raciocínio
válido. Uma outra maneira de expressar essa diferença é dizer que
numa dedução é impossível que as premissas sejam verdadeiras e a
conclusão falsa, mas no raciocínio indutivo no sentido forte isso é possível,
mas pouco provável. Num raciocínio dedutivo a informação da conclusão já
está contida nas premissas, de modo que se toda a informação das premissas é
verdadeira, a informação da conclusão também deverá ser verdadeira. No
raciocínio indutivo a conclusão contém alguma informação que não está contida
nas premissas, ficando em aberto a possibilidade de que essa informação a
mais cause a falsidade da conclusão apesar das premissas verdadeiras.”[2]
Concuindo entao nosso raciocinio lógico dedutivo, a
logica indutiva parte das partes para entender o todo enquanto que a dedutiva
busca ter todas as informações para entender as partes. E é esta a forma que
adotamos para elaborarmos uma exegese confiavel e acima de qualquer suspeita,
levado-se em conta que a Palavra de Deus não deve ser usada com fins obscuros,
ou como esta escrito em 2 Pedro 1:20:
Sabendo
primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular
interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem
algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.
Teologia: Deus se Revelando
de Forma Sistemática
Nossa
proposta é estudar as doutrinas principais da Bíblia, de forma clara e buscando
sempre analises exegéticas da principal fonte cristã: a Bíblia. Estudaremos as
seguintes doutrinas:
1 – Teologia Deus: Doutrina
de Deus
2 – Cristologia: Estudo
acerca de Cristo
3 – Pneumatologia: Estudo acerca do Espírito
Santo[3]
Entendemos
que ao estudarmos estas três principais doutrinas cristãs, nos apropriaremos,
de maneira geral de uma das principais doutrinas bíblicas, a saber,
soterologia, que é a Doutrina da Salvação.
Antes,
porém, mas fazer uma breve abordagem sobre como o homem chegou a se apropriar
de tais estudos. Sim, pois para que chegássemos a elaborar estudos sistemáticos
sobre estes e outros assuntos acerca de Deus, Jesus e o Espirito Santo, foi
necessário que houvesse por parte de Deus tomar a iniciativa, afinal o homem
por si mesmo é alheio a Deus (Efésios 4:18). Este, digamos, contato,
denomina-se REVELAÇÃO.
Teologia e Revelação
Tudo
se inicia em Genesis. Sem Genesis e esta clara demonstração do amor de Deus ao
se revelar ao homem, não sabemos como poderia ser a vida humana. Deus, em sua
infinita bondade criou todas as coisas e se manifestou aos homens.
Revelando-se. Latourelle (1985, p.13), assim define o inicio da religião tendo
por suposto a Revelação:
Caracteriza-se a religião do Antigo
Testamento pela afirmação de uma intervenção de Deus na historia, intervenção devida
unicamente à sua decisão. É concebida essa intervenção como o encontro de
alguém com alguém: alguém que fala com alguém que ouve e responde. Dirige-se
Deus ao homem como um Senhor a seu servo, interpela-o, que ouve a Deus,
responde pela fé e pela obediência. O fato e o conteúdo dessa comunicação, nós
chamamos de revelação.
Podemos
afirmar que cristianismo adota quatro diferentes revelações, a saber:
1 – A Revelação da Natureza:
♦ Os céus proclamam a glória de Deus e
o firmamento atesta a obra de Suas mãos. Um dia ao seguinte transmite esta
mensagem; uma noite à outra a comunica. Não é linguagem humana, não há palavras
e som algum é percebido. (Salmos 19:1-4)[4]
2 – A Revelação Escrita:
♦ Porque a palavra de Deus é viva e
eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a
divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e intenções do coração. (Hebreus 4:12)
♦ Temos ainda mais
firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma
candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva
surja em vossos corações; sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da
Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida
por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo
Espírito Santo. (2Pedro 1:19-21).
3 – Revelação Especial: O Verbo Encarnado
♦ Mas, vindo a plenitude dos tempos,
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei, (Gálatas 4:4)
♦ No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as
coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se
fez. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade;
e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai. (João 1:1-3, 14)
♦ E, se invocais por Pai aquele que,
sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor durante
o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi com coisas corruptíveis,
como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por
tradição recebestes dos vossos pais, mas com precioso sangue, como de um
cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo, o qual, na verdade, foi
conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifesto no fim dos tempos por
amor de vós, que por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e
lhe deu glória, de modo que a vossa fé e esperança estivessem em Deus. (1 Pedro 1:17-21)
Estes
meios de Deus se revelar possibilitam que o homem se encontre com Ele. Quanto
mais o homem perscruta em busca da revelação, mais se aproxima de Deus; e
quanto maior o conhecimento de Deus, maior a fé e menor o medo. Se a iniciativa
foi de Deus em se auto revelar inferimos que a sua intenção era a de se
aproximar cada vez mais de sua criação.
Homem
O
plano divino sempre foi o de se aproximar de sua criação, em especial do homem.
E Sua intervenção é sutil e marcante ao mesmo tempo. Pois poderia ter criado o
homem sem vontade, sem capacidade de escolher. Mas optou em criar um homem com
habilidade racional e moral, para se revelar a ele e dar-lhe a chance de optar
se converter ou não.
Fontes Bibliográficas
BÌBLIA
HEBRAICA. São Paulo: Sefer, 2006.
LATOURELLE,
René. Teologia da Revelação. 4.ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
Autor: Edson Maciel, pastor e teólogo.
[3]
Existem
outra gama de estudos que poderíamos inserir, como hamartiologia (estudo do
pecado), angelologia (estudo dos anjos), antropologia (estudo sobre o homem),
porém nesse momento faremos dentro destas três principais doutrinas as
abordagens que forem necessárias sobre estas e outras que forem necessárias.
[4]
Texto extraído da Bíblia Hebraica, Ed. Sefer, 2006.
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