O DEUS
QUE FALA DO MEIO DO REDEMOINHO
Caio
Fabio
“Depois
disto, o Senhor, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó...”
Jó foi o homem que conheceu o poder
construtivo das perdas.
Perdeu tudo. Perdeu todos. Os filhos haviam
morrido, seus bens roubados ou devastados pelas catástrofes que sobre ele se
abateram. Sua saúde é atingida de tal modo que ele fica por um fio: incapaz de
viver e incapaz de morrer – existindo no limbo onde nem a vida e nem a morte
lhe são possibilidades de alívio. Sua mulher se des-casa de sua dor. Seus
servos já não o reconhecem. Sua dignidade e virtudes antes aclamadas são agora
interpretadas por quase todos como uma grande falsificação. E, por último,
perde os amigos, que interpretam sua calamidade como um juízo divino sobre a
sua vida.
Jó ficou só. E a companhia de seus amigos
acusadores se lhe tornou presença idêntica a do Acusador. Seus amigos, sem o
saberem, haviam se tornado mais danosos à sua alma que Satanás.
Jó quer saber o por quê. Geme. Pede a morte.
Deseja ser um aborto. Amaldiçoa o dia de seu nascimento. Denuncia a História
Humana como cenário do Absurdo e da Injustiça. E, diante dos amigos, nega-se a
confessar-se para além do que já dissera.
Jó se permite sofrer. Jó conhece a
Indisponibilidade de Deus e dos homens e começa a adoecer de um mal maior. Jó
estava ficando amargurado com as interpretações homens e com o silêncio de Deus.
E no seu desespero, ele constitui Deus seu Advogado contra Deus e os homens.
As vozes tanto dos juízos humanos de seus
amigos quanto as dos clamores de Jó cessam apenas quando Deus “responde” a Jó
do meio de um redemoinho!
Sempre me perguntei por quê Deus falou a Jó
do “meio de um redemoinho”. Ora, a vida de Jó estava sob total poder
avassalador. Sua existência havia sido “varrida” pela força daquele diabólico
“tornado” que destruíra tudo o que ele amava e havia construído. Daí, então, a
imagem ser perfeita.
Era como se Deus dissesse: “Eu estou no meio
de teus tormentos!”
O fato mais interessante é que o “meio do
redemoinho” é um lugar de paz. Hoje sabemos que no “olhinho”, no centro das
tensões que formam o fenômeno do redemoinho, existe um silêncio total, uma
calma absolutamente chocante, uma “causa-paz” que contraria o “efeito-catástrofe”
por ele manifesto. E aqui há uma “parábola”. Isto porque o redemoinho é produto
de uma relação de causa e efeito estudável no universo das leis fixas. Mas,
estranhamente, existe uma “contradição” nele, pois, no meio da devastação
existe um lugar oposto, um lugar de paz. E é desse “lugar” que Deus fala a Jó.
E, assim, Deus usa um fenômeno de “causa e efeito” a fim de manifestar a
“não-causalidade” dos efeitos que Jó experimentava na carne. Jó era vítima de
fenômenos físicos e espirituais, mas seu Deus continuava o mesmo e não havia se
permitido mudar pelas tormentas que quase mataram Seu “amigo Jó”.
Na maioria das vezes é no meio do redemoinho
onde se encontra a maior Graça!
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