Balaiada
A Balaiada foi uma importante revolta ocorrida no Maranha entre 1838 e 1841, iniciando no Período Regencial e terminando no governo de D. Pedro II. Uma dos líderes do movimento era uma fabricante de balaios, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira (daí o nome balaiada). Quando eu ainda estudava na faculdade, em um seminário, um colega apresentou um poema sobre o assunto que tem, além de fundamentação histórica, um profundo toque artístico e humano.
A vingança de Balaio
Nos tempos da Regência
No Nordeste brasileiro Caminhava triste figura
Entre o sonho e desespero
Tá aqui a minha história
Artesão da região Do sertão do Maranhão
Manuel Francisco Ferreira dos Anjos
Pelas bandas de Coroatá, me chamavam de Balaio
Mas só lhes peço uma coisa antes de começá: Não me olhem de soslaio
Nem desandem a chorá
Não vivia de agregado
Nem tão pouco era empregado De herança de meu pai
Um terreno acatingado
Onde plantava o que comia
E comia o que plantava Quatro bucho pra encher
Era pouco o que sobrava
A fartura não havia
Ou melhor, havia sim! Fartava carne, fartava fruta,
Fartava água até aipim.
Fazia com carinho
Cesta de palha e peneira Na oficina minhas filha
Era elas costureira
Eu vendia os balaio
De domingo lá na feira Que montavam no terreiro
Infestado de poeira
Eu vos digo meus amigos
Tudo, tudo é forte no sertão Grande e forte é a lei
Da peixeira e do facão
Forte é o sertanejo
Que ninguém sabe seu nome Forte seca, forte sede
Forte sol e forte fome
Na venda do Bastião
Onde ia a tardezinha Trocar por outras coisas
Minhas sacas de farinha
Proseava horas sobre
As últimas de Coroatá Até que a patroa
Acenava pra volta.
Numa tarde ensolarada
Olhando ao longe vejo Tropas legalistas
Cruzarem o vilarejo
Sujeitos desalmados
E cheios de maldade Voltei esbaforido
Mesmo assim já era tarde
Minha mulher tremia
No chão chorando me contava O causo que a pouco
Infelizmente se passava
Minha raiva e minha ira
Eles tinha despertado Minhas filhas tão amadas
Eles tinham desonrado
Carreguei comigo
Uma sede de vingança Vida simples e tranqüila
Ficaram na lembrança
Aperto no peito, nó na garganta
E dor no coração Perseguir aqueles cabras
Por todo Maranhão
Fui pedaço de vida em fim de feira*
Ave bala que tem mira certeira* Vingança! Oh palavra incandescente!
Sou Balaio, sozinho um impotente
Com amigos, conhecidos, muita gente
Sou a presa afiada da serpente* Que cochila nos pés do cangaceiro*
Essa noite eu retalho o mundo inteiro!
Agora quero justiça
E adentro a Balaiada Que foi, com tal nome
Por minha causa batizada
Minha morte veio antes
Da revolta terminada Porém minha vingança
Foi em parte executada
Nas veredas estreitas do universo
Matei muitos legalistas eu confesso Mas no meio dos legais eu matei gente
O mesmo erro, era gente inocente!
(*Trechos de cantigas e literatura de cordel popular presentes na cultura nordestina).
Autor: Pedro Jr. Peres.
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