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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Édipo Rei - paralelo com a fé cristã




O mito de Édipo

1. Introdução
O caminho de volta para Deus não é uma descoberta dos cristãos. Está no coração da humanidade. Para mostrar isso, e também para aprofundar alguns pontos da caminhada de São Francisco, vou contar a história de Édipo, famosa por causa de Freud, que só usou uma parte do mito.

Os mitos são muito importantes em todas as culturas. São histórias que duram muitos séculos e não têm autores conhecidos, porque foram elaborados por um povo e tocam as raízes do humano universal.

A história de Édipo tornou-se imortal quando foi elaborada pela tragédia grega, especialmente por Sófocles, no sec. V antes de Cristo. Os gregos trabalhavam as tragédias para provocar uma catarse (purificação) no povo. Mostravam que o ser humano tem a tendência de se separar de Deus pelo orgulho (hýbris) de suas realizações, mas que isso causa uma cegueira (ate) diante da vida. Então, uma ação dos deuses (ftónos theón) derruba-o para que possa encontrar o caminho da volta. Só assim ele poderá ser livre.

1). A história de Édipo
Édipo nasceu em Tebas e era descendente de seu mítico fundador, Cadmos. Seu avô foi Labdacos (o "coxo") e seu pai foi Laios (o "canhoto").

Laios casou-se com Jocasta e teriam sido felizes como reis de Tebas se não fosse um problema: não conseguiam ter filhos. Por essa razão, muito religiosos, foram consultar o Oráculo de Delfos.

No templo, a pitonisa délfica revelou que teriam um filho dentro de pouco tempo, mas que ele estava destinado a matar o pai e casar-se com a mãe.

Eles se alegraram pelo filho. Quando ele nasceu, Laios lembrou-se do oráculo e mandou os servos matarem o bebê.

Levaram-no para uma a floresta, furaram-lhe os pés e o amarraram de ponta cabeça em uma árvore para ser devorado pelos animais selvagens.

Passaram por ali uns pastores de Corinto e o levaram. Deram-no aos reis de Corinto, que também sofriam por não ter um filho. O rei e a rainha adotaram-no como se fosse seu, e lhe deram o nome de Édipo, que quer dizer "pés furados".

Quando cresceu, Édipo começou a sentir-se diferente dos seus concidadãos e foi consultar o Oráculo de Delfos. Aí soube que estava destinado a matar o próprio pai e a casar-se com a mãe. Horrorizado, decidiu não voltar a Corinto, Pegou o carro e foi para bem longe.

Em uma estrada estreita, nas montanhas, encontrou um carro maior na direção contrária. Tentou desviar-se mas os carros acabaram chocando-se de raspão. O cocheiro do outro carro xingou Édipo que, revoltado, o matou. Então o patrão do cocheiro avançou sobre Édipo, que o matou também. E continuou a viagem.

Chegou a Tebas e encontrou a cidade consternada por dois problemas: o rei tinha morrido e um monstro, a Esfinge, estabelecera-se na porta da cidade propondo um enigma. Como ninguém sabia responder, a Esfinge ia matando um por um. Jocasta tinha oferecido sua mão a quem livrasse a cidade desse monstro.

Édipo foi enfrentar a Esfinge. Era um ser estranho, com corpo de leão, patas de boi, asas de águia e rosto humano. Seu enigma: O que é que tem quatro pés de manhã, dois ao meio dia e três à tarde?

Édipo respondeu que era o homem, porque engatinha quando criança, passa a vida andando sobre dois pés mas, velho, tem que recorrer a uma bengala. A Esfinge matou-se e Édipo, casando-se com Jocasta, tornou-se o rei de Tebas.

Tiveram quatro filhos. Os gêmeos Eteócles e Poliníces, Antígona e Ismênia. Foram felizes durante muitos anos. Mas, depois, uma peste assolou a cidade.

Édipo quis ir consultar Delfos, mas foi aconselhado a chamar Tirésias, um velhinho cego e sábio que vivia em Tebas. Este revelou que a causa era o assassino de Laios, que continuava na cidade. Édipo prometeu prendê-lo e matá-lo, mas o sábio revelou que ele mesmo era o assassino, porque Laios era o dono do carro que ele enfrentara.

Jocasta, envergonhada, suicidou-se. Édipo furou os próprios olhos e renunciou ao trono. Cego, precisou ser guiado por Antígona para ir a Delfos. Aí soube que devia ir a um bosque sagrado, em Colonos, perto de Atenas. Ajudado por Teseu, rei de Atenas, chegou lá. Encontrou um lago, onde tomou banho, e uma caverna, onde penetrou depois de mudar de roupa. Entrou na eternidade.

2). Um paralelo com Francisco
Podemos confrontar a história de São Francisco com a de Édipo em sete interessantes etapas.
Na primeira etapa, tanto Édipo como seus pais lutam para escapar de seu "destino" terrível, mas, sem querer, acabam realizando tudo, ponto por ponto. É aqui que temos de descobrir nossa vocação: para que Deus nos pôs neste mundo? Enquanto lutarmos para escapar dessa vocação, estaremos perdendo tempo: é Deus quem conduz a nossa história. Não fatalmente, mas nos ajudando a compreender o que é melhor para cada um.

São Francisco tenta ser comerciante e cavaleiro mas acaba sendo o santo que Deus queria que ele fosse. Tem até o "sonho" de um chamado, mas custa para entendê-lo. Precisa passar por diversas experiências fundamentais.

Na segunda etapa, Édipo mata o pai: isto é, percebe que tem que se diferenciar de suas origens, tem que ser ele mesmo. Precisa livrar-se de sua "sombra interior", que é uma imagem negativa de si mesmo, muitas vezes identificada na figura paterna pelos meninos e na figura materna pelas meninas. O sentido é que a pessoa precisa descobrir que é diferente, não tem que ser igual a ninguém. Figurativamente, podemos dizer que isso é "matar o pai". Francisco conseguiu libertar-se dos sonhos de Pedro de Bernardone quando entendeu que não tinha que ser nem comerciante nem cavaleiro. Simbolicamente, entregou ao pai o dinheiro e as roupas, dizendo que, a partir daí, podia dizer de verdade: "Pai nosso que estais no céu".

Na terceira etapa, Édipo casou-se com a mãe: isto é, depois de ter conseguido a separação, tornando-se indivíduo independente, percebeu que podia reatar mais maduramente seus laços com as suas origens. Compreendeu que podia continuar a ser diferente, mas podia fazer uma aliança nova e madura com suas raízes, sem medo delas. É desposar a própria terra, o próprio húmus. Francisco, que tinha deixado a cidade de Assis e o mundo, volta a viver nela para ser uma nova presença. Seu "não-lugar" está na missão junto às pessoas do "lugar". Surgiu uma nova forma de vida religiosa.

Na quarta etapa, Édipo resolve o enigma da esfinge. No fundo, descobre que "ser homem" consiste em "tornar-se humano" cada dia. Precisa vencer etapas: sair do quatro, passar para o dois e saber caminhar no três. Francisco vive um período muito fértil em que funda as suas três ordens, anuncia o Reino em uma porção de cidades, deixa inúmeros ensinamentos que nos haveriam de enriquecer durante tantos séculos.

Na quarta etapa, Édipo ouve Tirésias, um sábio cego que lhe revela tudo que estava acontecendo com ele. Podemos dizer que Francisco ouve a sabedoria de Deus em vez de ouvir a multidão dos ministros e o cardeal Hugolino, que queriam que ele pusesse ordem na Ordem.

Na quinta etapa, Édipo, já cego, deixa-se dirigir por sua filha Antígona para ir consultar o oráculo de Delfos; Francisco, já cego, deixa o governo da Ordem e segue apenas a donzela pobreza, que fala em sua interioridade.

Na sexta etapa, Édipo, peregrina para Colonos, obedecendo ao oráculo de Delfos; Francisco, cego, caminhando passo a passo sem saber onde vai chegar, segue "os rastros de Jesus Crucificado".

Na sétima etapa, Édipo chega ao bosque e encontra uma abertura na terra. Despede-se e entra no reino eterno da realidade. Francisco também chega, sem roupa, ao encontro da Irmã Morte e entra para o reino da Santíssima Trindade. Ou se encontra com o "Esposo".

Francisco é um "Pésfurados" tanto porque recebeu as chagas porque foi toda a vida um homem pequenino e ferido no corpo, mas também se identificou com Jesus Crucificado.

3). O Enigma
Nessa história ainda há mais um caso interessante: o enigma. A Esfinge é um ser com corpo de leão, pés de boi, asas de águia e cara de gente (justamente os símbolos dos evangelistas [e das visões de Ezequiel e João no apocalipse: Ezequiel 1.10, Apocalipse 4.7], note bem). A pergunta da esfinge era: O que é que tem quatro pés de manhã, dois ao meiodia e três de tarde?

Édipo responde que é o homem. Mas há mais sentidos: os quatro pés (de boi) falariam de quando estamos presos à terra, numa unidade indiferenciada com a natureza. Os dois pés (de homem) falariam de quando conseguimos "matar o pai" e nos diferenciar como indivíduos independentes (teríamos a força do leão). Os três pés falariam da nossa capacidade de, já independentes, conseguirmos estabelecer um vínculo com o diferente, com o outro, com as origens (teríamos o vôo da águia).

Nosso enigma, para podermos encontrar a Deus, é descobrir o homem, isto é, quem somos nós.

Tenho que descobrir e ser quem eu sou. Tenho que descobrir quem são os outros e me relacionar bem com eles, como filhos e criaturas de Deus.

Só chega a fazer isso quem consegue ser casto: isto é, quem passa a vida dedicado ao encontro com Deus-Esposo.

A plenitude só chega quando, depois de me diferenciar, consigo me relacionar sem perda para mim nem para os outros.

Todas as pessoas podem conseguir, em graus maiores ou menores, diferenciar a si mesmas e se relacionar cada vez melhor com os outros, mas o mais profundo e verdadeiro relacionamento só vem quando alguém se relaciona bem com Deus. Quem está nessa busca, mesmo sem voto, é "casto".

A descobrir nosso verdadeiro eu quando nos abrimos ao abraço de Deus e permitimos que Ele, o Esposo, nos encontre. Costumamos relutar muito para fazer isso, porque sabemos que o eu com que já estamos acostumados não vai resistir. Mas é o único jeito de encontrar o nosso eu de verdade.

Santa Clara [viveu entre os séculos XII e XIII, foi a fundadora da Ordem Franciscana feminina, e se destacou na história da Igreja pela sua piedade e devoção para com Deus e os excluídos da sociedade] tem uma boa proposta para nós. Lembrando, no seu Testamento e na terceira carta a Inês de Praga, que Jesus Cristo é o nosso espelho, aprofunda esse pensamento na quarta carta: propõe que nos olhemos todos os dias, por dentro e por fora, no espelho que é Jesus.

De fato, nosso problema é o relacionamento correto e vital com Deus. Quem perde Deus, perde a liberdade e o amor verdadeiro. Pode até achar que ama, mas na realidade, está possuindo.

Aqui é preciso lembrar que os povos pagãos já sentiam a necessidade de fazer o caminho da volta e tratavam de mover-se para isso por um verdadeiro terror, como nas tragédias gregas. O povo do Antigo Testamento já tinha a esperança dessa volta, prometida por Deus. Mas foi Jesus quem nos trouxe a certeza de volta e do abraço do Pai que nos espera. Jesus restaurou o caminho porque acolheu a vontade do Pai.

É claro que é em Jesus Cristo que podemos ver Deus de verdade. E também é em Jesus Cristo que podemos ver o nosso eu de verdade.

O interessante é que Clara, certamente muito experimentada nesse tipo de contemplação, não demonstra nenhum temor ao se espelhar em Jesus, que é o protótipo. Pelo contrário, diz que devemos ir nos mudando para ficarmos bonitos como ele. Sim, como ele, espelho despojado e simples no presépio, como ele, espelho de pobreza e humildade durante toda a sua vida. Como ele, espelho de amor quando foi despido e crucificado.

Quem se coloca diante de Cristo e enfrenta a escuridão interior já está no caminho de volta, porque o olhar de Cristo cura a nossa falsidade. Como disse São Paulo: "Quem está em Cristo é uma nova criatura. A ordem antiga já passou; agora estamos na nova" (2Cor 5,17).

Sem ficar cegos, podemos olhar o Cristo novo que está nascendo em nós.

4). Pontos para reflexão
  1. Anote as principais características pelas quais você se definiria. Principalmente os pontos positivos, mas não deixe de lado nem os negativos. Como é que você se apresenta? Você se vê como uma pessoa amável?
  2. Já desconfiou, às vezes, que os outros o vêem diferentemente? Como é que o vêem as pessoas que menos gostam de você? E as que mais gostam? Quando você percebe que não acreditam no que você acha que é, qual tem sido sua atitude? O que você faz quando os outros acham que você é melhor do que você mesmo se reconhece?
  3. O que você pode dizer da sua coragem para fechar os olhos ao mundo de fora e se enxergar por dentro? Você consegue reconhecer a escuridão interior? Consegue reconhecer que Deus está lá no fundo dessa escuridão? Consegue pedir a Ele, como São Francisco, que "ilumine as trevas do seu coração"?
  4. Será que você está realmente empenhado em um caminho de volta? Quais são as suas atitudes que demonstram isso? Que práticas você já estabeleceu e já mudou em sua vida para trilhar com decisão uma volta constante para Deus? Até que ponto pode dizer que sua vida de oração é um caminho de volta?
 Fonte: http://www.franciscanos.net/portugues/livres5.htm

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