História e Bíblia

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Revolução do Evangelho - Caio Fabio



PARTE 1





PARTE 2

domingo, 28 de agosto de 2011

NÃO HOUVE UMA REVOLUÇÃO EM 1930


Getúlio Vargas no Palácio do Catete, em 31 de outubro de 1930



NÃO HOUVE UMA REVOLUÇÃO EM 1930

(Adaptado de Jacob Gorender)

Antes de mais nada, desejo me manifestar sobre essa expressão Revolução de 30, que se generalizou no jornalismo, na retórica e até nas teses acadêmicas. É uma expressão da qual eu discordo, porque não creio que tenha havido em 30 uma revolução, no sentido científico da palavra, isto é, uma transformação tão profunda que atingisse a base econômica da sociedade, varrendo relações de produção e instaurando novas relações de produção. Nem na esfera do Estado creio que tenha havido uma mudança tão radical quanto a derrubada de uma classe dominante antiga e a ascensão de uma nova classe revolucionária ao poder.

Mas isso não significa que eu considere que 30 foi uma página em branco na História do Brasil. Verificou-se, naquele ano, um movimento político-militar que marca um período, um antes e um depois, e no bojo do qual surgiram tendências, cujo desenvolvimento nós presenciamos até hoje. Penso que o movimento político-militar de 30 cumpriu, em primeiro lugar, uma função destrutiva de grande importância. Apeou do poder do Estado os proprietários rurais, os cafeicultores que dominavam a Primeira República e que, pelo estilo de governar e pela política econômica que imprimiam, já constituíam um estorvo ao desenvolvimento do país.

No seu lugar, ascende outro setor da classe dos proprietários rurais, uma composição de setores nos quais prevaleciam aqueles que tinham uma ligação maior, a meu ver, com o mercado interno e que, por isso, puderam mostrar-se mais sensíveis a um projeto de industrialização do país. Eles foram sendo ganhos para a industrialização capitalista, à medida que a própria burguesia industrial ganhava força e influência no aparelho de Estado, porque, evidentemente, eu não compartilho a ideia de que a Revolução de 30 foi uma revolução burguesa.

Referindo-me, especificamente, às consequências da Revolução de 30, ou do movimento político-militar de 30, na organização do Estado brasileiro, eu acredito que se poderia sumariar essa influência da seguinte maneira:

Em primeiro lugar, me parece que o movimento político-militar de 30 deixou completamente intocado o campo, onde viviam, naquela época, cerca de 70% da população brasileira. Não se tocou nas oligarquias rurais, como aconteceu com as salvações do governo de Hermes da Fonseca. As oligarquias aliadas à Primeira República foram postas abaixo e vieram à tona novas oligarquias. Os tenentes se compuseram com as oligarquias em todos os Estados. Nesse aspecto, então, o movimento não trouxe nada. Mas isso não significa que em outros aspectos ele não trouxe alguma coisa. Em primeiro lugar, a centralização autoritária. Não porque fosse uma ideologia dos próprios tenentes – e era de fato. Não porque o próprio Getúlio, com a sua formação positivista, castilhista e influenciado pelas ideias do fascismo italiano, tendesse para isso. Mas, porque as próprias exigências da época conduziram nesse sentido.

(Adaptado de: Jacob Gorender, Um Estado a serviço do capital, Folha de S.Paulo, 19/10/1980, Folhetim.)


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

JESUS ERA RUIM DE MARKETING!





JESUS ERA RUIM DE MARKETING!
(Caio Fabio)

Alguém me escreveu dizendo que não entende por que Jesus agiu como agiu, ao invés de fazer como César ou Alexandre, o Grande.

            A ele e a tantos quantos pensam a mesma coisa, digo o seguinte:

            Jesus veio para salvar o mundo, e, contudo, não fez nada igual aos que se oferecem como salvadores dos homens.

            Já se disse demais [embora valha a pena repetir] que Ele não escreveu sequer um livro, não erigiu um pilar, por mais fajuto que fosse; não mudou para Roma e nem para Atenas ou mesmo para Jerusalém; não aceitou a oferta dos gregos de ir viver entre eles; não buscou impressionar os filósofos gregos ou os senadores romanos; e nem tampouco sistematizou um ensino para ser decorado ou aprendido; e, para completar a serie de “insensatezes”, ainda escolheu andar com gente que não formava opinião, não era conhecida, não tinha berço, e não agia no meio político ou religioso. Ele fez como o Pai: Do que estava sem forma e vazio Ele iniciou o reino!

            Além disso, Ele não gerou filhos e nem deixou herdeiros carnais de nada. Não criou amuletos com pedaços de suas roupas ou utensílios de uso pessoal [toda essa história de Graal e relíquias santas é paganismo comercial brabo feito em nome de Jesus], não “marcou lugares santos” e nem estabeleceu “peregrinações sagradas”, como ir à Jerusalém, à Cafarnaum, e muito menos a qualquer outro lugar santo ou “Meca”.

            Também não inventou “uma parte profunda” de Seu ensino apenas reservado aos Entendidos e Autoridades. Não venerou nada. Não se vinculou à coisa alguma, nem mesmo ao Templo de Jerusalém, ao qual derrubou com palavras proféticas.

            Chocante também é o fato Dele não se poupar em nada. Cansado, então cansado. Com sede, então com sede. Ameaçado, então cauteloso. Descrido, então muda de lugar. Amado, mostra amor, mas não fica seqüestrado pelo amor de ninguém. Desperdiça oportunidades de ouro. Joga fora o que ninguém jogava. Insurge-se contra aquilo que ninguém se levantava em oposição. Provoca a morte com vida até ressuscitar.

            Ressuscitar. Sim! Mas para quê? Se as testemunhas não eram criveis. Até óvnis têm testemunhos mais criveis do ponto de vista do que se julga um testemunho respeitável. E além de tudo Ele só aparece para quem crê, e não faz nenhuma aparição ante seus inimigos, no Sinédrio de Jerusalém, por exemplo. Até para ressuscitar Ele trabalha contra Ele mesmo, do ponto de vista de “estratégia de ressurreição”.

            Sim! Jesus não fez nada concreto. Tudo Nele era abstrato, até quando era concreto. Tudo tinha que ser apreendido com o coração, e não apenas aprendido com a mente. Um dia depois do milagre da multiplicação de pães e peixes, todo o resultado do milagre já havia sido digerido e evacuado. Ninguém foi por Ele instruído a guardar amostra dos pães e peixes, nem tampouco pediu Ele que se guardasse um tonel de vinho de Cana.

            Jesus era do tipo que jamais chegaria à Betânia e diria: “Foi aqui que ressuscitei Lázaro!”

            Sim! Ele não tem histórias de Si mesmo para contar. O presente é a História para Jesus. Suas histórias não são passadas, são todas presentes. Suas histórias são as Suas palavras de vida e poder enquanto...

            Ora, eu poderia ficar escrevendo aqui para sempre sobre o assunto [aliás, tenho três livros que lidam com essas questões de modo amplo e extenso]; no entanto, o que me interessa é apenas afirmar que assim como Jesus tratou a vida e a História, do mesmo modo Ele espera que nós o façamos, até quando estivermos exaltando o Seu nome ou pregando a Sua Palavra; e, sobretudo, no vivendo da vida.

            Ou quem nos fez pensar que Jesus era assim apenas porque Ele tinha que ser assim? — Mas que nós, que não somos Ele [e que temos a tarefa de propagandeá-LO na terra], temos permissão para tratarmos Jesus em relação ao mundo de um modo diferente do que Ele tratou a Si mesmo? Sim! Quem nos convenceu de tal loucura?

            O modo de vivermos e pregarmos o nome de Jesus no mundo é exatamente o mesmo com o qual Ele tratou a Si mesmo na experiência humana de Seu existir entre nós. 

            “Meu reino não é deste mundo!”

            Afinal, quem é César? Quem é Alexandre?

            Você deve a vida a qualquer um dos dois? Em que César ou Alexandre ajudam a sua vida hoje?

            Assim, pergunto:

            Você aceita desistir do que erro no qual foi criado na religião e passar a viver com os modos e motivações de Jesus?

            Pense nisso!

Caio Fabio





domingo, 14 de agosto de 2011

A Pedagogia de Hitler

 O próprio Adolf Hitler entregando condecorações da Cruz de Ferro a jovens alemães em 1945

A Pedagogia de Hitler

DOCUMENTO HISTÓRICO:


“Minha pedagogia é dura. O fraco deve ser eliminado, descartado. Na minha Ordem dos Castelos, [instituição criada pelo Nazismo para educação dos jovens alemães] a juventude crescera para aterrorizar o mundo. Eu quero uma juventude cruel, arrogante, destemida, capaz de suportar qualquer dor. Nada de fraco ou delicado deve permanecer nesses jovens. Seus olhos devem ser de um animal predador. Eu quero meus jovens bonitos e fortes. Quero treiná-los e transformá-los em atletas. Quero apagar milhares de anos de domesticação humana. Assim terei nas mãos um material nobre e puro para criar o novo. Eu não quero uma educação intelectual, com conhecimento. Eu prefiro que eles aprendam apenas seguir suas intuições. Eles devem aprender a superar o medo da morte através dos mais rigorosos testes. Vivemos um momento histórico e heroico de nossa juventude” (Discurso de Adolf Hitler citado em VOGT, Hannah. The burden of guilt: short history of Germany (1914 – 1945). New York: Oxford University Press, 1964. P. 163).    




Cartaz nazista, incentivando a participação dos jovens alemães nos núcleos da Juventude Hitlerista.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Só Deus Segura Este País




Só Deus Segura Este País
Composição: (Armando Filho)

Dos homens não vem solução
Prá restaurar esta nação
Os salvadores vão surgir
Promessas não vão se cumprir
Ninguém segura este país
É o que se ouve é o que se diz
Mas lá no céu no trono está
Um Deus poderoso, seu Nome é Jeová
Só Ele pode este quadro mudar.

Só Deus segura este país
Em meio a crise e a aflição
Em meio a tanto desamor
O amor de Deus é a solução

É hora de interceder
E confiar somente em Deus Jeová
Só Ele tem todo o poder
E pode então tudo mudar.
Muitos têm pouco prá viver
Poucos tem muito prá valer
Este sistema é opressor
Tem seu cruel dominador
O misticismo em ação
Na tela da informação
A Violência está a crescer
Ao ponto de nos deixar sem saber
O que será desta grande nação.

***

Algo para se pensar
                De forma maravilhosa o cantor e compositor Armado Filho, exprime verdades atuais da nossa realidade. Sem perder a percepção cristã e a esperança na soberania de Deus, o escritor, em lugar de simples e friamente “declarar que essa nação é do Senhor”, aponta que os “salvadores” vão surgir, entretanto, com promessas vazias! Isso não se refere apenas àqueles políticos que a (já configurada, porém não definida) ala evangélica tem acusado de pervertida, mas, mais ainda aos candidatos ditos cristãos, que levantado bandeiras de promessas sem sentido, ou no muito, enganosas, têm levando muitos a uma esperança náufraga. Alguém já escreveu certa vez que não é a simples troca de homens no poder que vai transformar nossa sociedade. Não é o político A ou B que tem a cura da nação! Nesse mundo em que como canta Armando Filho na última estrofe, “muitos têm pouco prá viver e poucos tem muito prá valer”, é urgente uma inversão de valores, uma transformação radical que mexa com as estruturas de poder vigente, desse “sistema opressor” Capitalista. Nessa configuração atual nossa sociedade concorre para todo tipo de "misticismo" tolo, ganancioso e sedutor; pessoas têm dado a vida em troca de uma fé sem fundamento, sem razão e transformação, simplesmente um crer por crer, apenas como um placebo para suas reais labutas e desventuras humanas. A “tela da informação” tem sido mais parceira da desinformação – “Os meios de informação desinformam” como escreveu Eduardo Galeano – pois mais se presta mais ao entretenimento, comércio e manipulação de massas que à exposição da verdade, ou no mínimo de uma reflexão real da vida. A “violência cresce”, mas é tão somente um reflexo do nossa sociedade tem formado. E no encaramento de acontecimento impactantes, como o massacre de Realengo, ou qualquer outro fato brutal, fica o ponto de interrogação: “O que será desta grande nação”? Para Jesus, a mudança viria de uma forma: com a chegada do Reino de Deus! Quando Ele apresentou e aproximou Deus das pessoas na Antiguidade, o sistema opressor da época entrou em choque, pois sua mensagem era uma afronta a dominação cruel dos ditadores políticos de Roma, e religiosos de Israel. Ele revelou um Deus que quer estar com o pobre, que da atenção as crianças, que anda com as mulheres, que toca os leprosos, que reparte o pão como os que têm fome, não como simples caridade que apenas dá uma esmola de consolo, mas com a mais real solidariedade que já existiu, pois sendo Deus se fez servo. Quando a igreja acordar para a vida que em Cristo há, certamente O Salvador irá surgir, não como uma promessa distante, mas como alguém presente, tangível e acessível!

Lucas 4. 18,19
“O Espírito do Senhor é sobre mim,
Pois que me ungiu para evangelizar os pobres.
Enviou-me a curar os quebrantados do coração,
a pregar liberdade aos cativos,
e restauração da vista aos cegos,
a pôr em liberdade os oprimidos,
a anunciar o ano aceitável do Senhor.”


Alexandre L. M Brandão
(a minha opinião não reflete necessariamente a do autor da música)




quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Construção - Chico Buarque







Construção
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mulheres de Atenas - Video




Análise da letra de Mulheres de Atenas de Chico Buarque e Augusto Boal.
Elaboração: Professor José Atanásio Rocha

Mulheres de Atenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos,
Orgulho e raça de Atenas

Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas, cadenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas obscenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos,
Bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas Helenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas

Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas morenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem pro seus maridos,
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro se encolhem
Se confortam e se recolhem
Às suas novenas serenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos,
Orgulho e raça de Atenas.

BUARQUE, Chico, BOA L, Augusto. In: Chico Buarque – letra e música. São Paulo: Companhia das  Letras, 1989. p. 144.


Memória discursiva.

“Mulheres de Atenas” faz referência a aspectos da sociedade ateniense do período clássico e a  alguns episódios e personagens da mitologia grega. A letra faz uma alusão aos famosos poemas épicos Ilíada e Odisséia, ambos atribuídos a Homero. Penélope, mulher de Ulisses, herói do poema Odisséia, viu seu marido ficar longe de casa por vinte anos, período em que ela se porta com dignidade e absoluta fidelidade; mas, por um lado, sua formosura, e, por outro, os bens familiares atraem a cobiça de pretendentes, que julgavam seu marido morto. Ela lhes dizia que só escolheria o futuro marido após tecer uma mortalha, que, a bem da verdade, não fazia questão de terminar: passava o dia tecendo e, à noite às escondidas, desmanchava o trabalho realizado. E enquanto seu marido se mantinha ausente, embora por tanto tempo sem notícia, ela se vestia de longo, tecia longos bordados, ajoelhava-se, pedia e implorava para a deusa Atena que providenciasse o retorno de seu amado.

Helena, filha de Zeus, era considerada a mulher mais bela do mundo. Sua história é uma das mais conhecidas na mitologia grega.  Esposa de Menelau, rei de Esparta, foi seduzida e raptada  por Páris, filho do rei de Tróia. Esse rapto deu origem à guerra de Tróia, que os gregos promoveram para resgatar Helena; fato narrado em Ilíada de Homero. Embora Ulisses não figurasse no primeiro plano da Ilíada, nela é freqüentemente mencionado, como um viajante conduzido à terras distantes e herói da batalha de tróia. Por essa escolha Homero, o poeta, relaciona as duas epopéias. A esposa de Ulisses, a prudente Penélope, opõe-se à esposa infiel – senão verdadeiramente culpada – Helena, que na Ilíada é causa inicial da guerra. Por essas e outras razões a Odisséia está intimamente ligada à Ilíada.

Assim, como uma referência histórica de um momento da humanidade que data de 5 séculos  antes de Cristo, os autores de “Mulheres de Atenas” valem-se da ideologia de Odisséia para  chamar a atenção das mulheres que ainda “vivem” e “secam” por seus maridos ao estilo  ateniense. Após a narrativa da morte dos pretendentes de Penélope, o rei Agamêmnon, filho de Atreu, lamenta profundamente a morte dos que lhes eram caros e faz a seguinte referência à esposa de Ulisses, descrita em Odisséia, de Homero, na Rapsódia XXIV, p. 216, Abril Editora,  edição de 1981:
“A alma do filho de Atreu exclamou: ‘Ditoso filho de Laertes, industrioso Ulisses, grande era o mérito da que tomaste por esposa. Nobres os sentimentos da irrepreensível Penélope, filha de Icário, que soube manter-se sempre fiel a seu esposo Ulisses! Por isso, jamais perecerá a fama de sua virtude, e os Imortais inspirarão aos homens belos cantos em louvor da prudência de Penélope’”

Os autores também realizam um apurado trabalho com a linguagem, no que se refere tanto à construção das frases quanto à seleção e ao emprego das palavras. Para obtermos uma melhor compreensão desse texto, necessariamente teremos de percorrer os caminhos da história, da mitologia, e reconhecer o diálogo aberto com outros textos, contido em “Mulheres de Atenas”. Entretanto, não é nosso ofício nos deter extensivamente com a história que envolvia a sociedade ateniense na época de Odisséia. Por essa razão, e colaborando com o trabalho de estabelecer essas pontes, antes do desenvolvimento de nossa análise, de forma sucinta, apresentamos um trecho escrito pelo historiador Edward MacNall Burns sobre o comportamento das mulheres de Atenas dos séculos V e IV a.C.:

“Embora o casamento continuasse a ser uma instituição importante para a procriação dos filhos, que se tornariam os cidadãos do Estado, há razão para se crer que a vida familiar tivesse declinado. Ao menos os homens de classes mais prósperas passavam a maior parte do tempo longe de suas famílias. As esposas, relegadas à uma posição inferior, deviam permanecer reclusas em casa. O lugar de companheiras sociais e intelectuais dos maridos foi ocupado por  mulheres estranhas, as famosas heteras, algumas das quais eram naturais das cidades jônicas e demonstravam grande cultura. Os homens casavam para assegurar legitimidade ao menos a alguns de seus filhos e para adquirir prosperidade por meio do dote. Era também necessário, naturalmente, ter alguém para tomar conta da casa”.

É comum, ainda nos dias de hoje, leitores menos avisados considerarem essa música como uma apologia à submissão e à subserviência feminina ao machismo brasileiro, a exemplo das mulheres da Grécia antiga. Aliás, isso aconteceu com muitas mulheres que se diziam feministas, algumas leitoras vacilantes e obtusas, que criticaram os autores porque julgaram a música “machista” – segundo elas, a letra da música sugeria que as mulheres de hoje tivessem o mesmo comportamento das mulheres da antiga Atenas. Não conseguiram perceber a inteligente ironia do texto... Onde se lê “Mirem-se...” sugere-se que se faça o contrário; dessa forma, o texto é um hino contra a submissão das mulheres que se sujeitam às regras ditadas pelas sociedades patriarcais. O próprio Chico Buarque, em uma entrevista à televisão Cultura, ao ser indagado sobre o pensamento das feministas da época, disse: “Elas não entenderam muito bem. Eu disse: mirem-se no exemplo daquelas mulheres que vocês vão ver o que vai dar. A coisa é exatamente ao contrário”.