Planeta Shalom
Sonhei.
Sonhei que estava no futuro.
Um futuro próximo ou distante?
Não sei.
Sei apenas que, nele, as galáxias se empenhavam numa guerra universal.
E, no planeta Alfa da galáxia Beta, dois guerreiros receberam suas licenças para o fim-de-semana. Aproveitaram-nas para sair num passeio a bordo de um disco voador. Afastaram-se dos caminhos conhecidos e perderam-se no infinito do espaço.
Depois de muito vagarem, avistaram ao longe um ponto – um ponto que não constava dos mapas estelares conhecidos. Aproximaram-se mais e mais, e viram que se tratava de um planeta. Resolveram explorá-lo e, quem sabe, conquista-lo. Assim, retornariam como heróis à sua galáxia.
Pousaram o disco voador e, ao abrirem a porta, depararam-se com uma cena que lhes pareceu incompreensível: lobos e cordeiros pastavam juntos, e uma criança deles cuidava.
Apuraram os ouvidos para o troar das batalhas; buscaram com os olhos atentos sinais de exércitos em luta. Mas o silêncio era total, e ninguém mais podia ser avistado.
Uma larga estrada cortava a relva macia, e parecia levar a uma casa distante. Os guerreiros de Alfa então resolveram investigar o que acontecia ali.
Ao chegarem à casa, abriram a porta e viram um grupo de pessoas sentadas juntas, em silêncio. Eram brancas, pretas, vermelhas, e amarelas, e suas fisionomias refletiam paz e felicidades.
Diante desta cena inesperada, os guerreiros comentaram entre si: “vamos lançar nossos brados de guerra e desafiá-los... Alcançaremos então uma grande vitória que produzira o medo em todos os habitantes do planeta. Então, o conquistaremos!”
Emitiram seu grito de guerra e fizeram gestos agressivos.
Algumas pessoas se levantaram e se aproximaram deles. Perguntaram: “quem são vocês?” E eles orgulhosamente responderam: “nós somos guerreiros do planeta Alfa, que esta na galáxia beta, e somos invencíveis. E vocês, o que fazem aqui? Onde estão os seus guerreiros?”
A resposta que receberam lhe pareceu altamente enigmática. “Não temos guerreiros, e estamos aqui rezando”, disseram as pessoas.
“Como vocês pode rezar sem ter líder que lhes diga a quem amar e quem odiar?”, perguntaram os homens de Alfa.
“Nós acreditamos que esta seja a melhor maneira de rezar – brancos e pretos, vermelhos e amarelos lado a lado, dando graças em seus corações ao Deus de sua fé.”
“Estranho... E vocês não têm guerreiros? Não têm heróis? como vencem suas guerras?”
“Não temos guerreiros porque, aqui uma nação não se levanta contra a outra, e não mais se conhece a arte da guerra. Transformamos nossas espadas em arados e nossas lanças, em foices. Como vocês devem ter visto, lobos e cordeiros vivem próximo e têm uma criança por pastor.”
“Que planeta estranho”, disseram os guerreiros. “É inacreditável! Nunca poderiam imaginar tal coisa... Que nome ele tem?”
“Tempos atrás, resolvemos mudar seu nome. Antes, chamava-se planeta Terra. Mas agora seu nome é SHALOM (Paz).”
Fonte: BUNIM, Irving. A Ética do Sinai. Editora Sêfer.
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