História e Bíblia

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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

por que estudar História hoje?





Laurentino Gomes: por que estudar História hoje?

Estudar História ajuda a entender o Brasil de hoje. Uma sociedade que não estuda História não consegue entender a si própria porque desconhece as razões que a trouxeram até aqui. E, se não consegue entender a si mesma, provavelmente também não estará preparada para construir o futuro de forma organizada e estrutura. É quase impossível compreender o Brasil de hoje sem estudar a vinda da corte de D. João para o Rio de Janeiro e a influência decisiva que esse acontecimento teve na Independência em 1822. Quase todas as nossas características nacionais, todos os nossos defeitos e virtudes, já estavam presentes lá. O estudo de História é, portanto, fundamental para a construção do Brasil dos nossos sonhos.

O interesse pela História é um fenômeno inteiramente novo na sociedade brasileira e se reflete nas listas de vendas dos livros sobre o tema, que nunca foram tão expressivas. Curiosamente, esse interesse coincide com outra grande novidade no Brasil de hoje: o exercício continuado da democracia por 26 anos, sem rupturas. É a primeira vez em que todos os brasileiros estão sendo chamado a participar da construção nacional. E o estudo de História é uma ferramenta imprescindível nesse trabalho de construção coletiva. Portanto, os brasileiros estão olhando o passado em busca de explicações para o país de hoje e como forma de se preparar para a construção do futuro. E a História serve para isso mesmo. A resposta a esse fenômeno exige a soma de esforços entre professores, jornalistas, historiadores acadêmicos, pesquisadores independentes, escritores - ou seja, quem tiver alguma contribuição a dar deve se pronunciar. Os brasileiros estão pedindo isso. Precisamos ser generosos com esses novos leitores de História. Temos de usar uma linguagem didática, acessível, de fácil entendimento.

Minha contribuição ao estudo da História do Brasil é de linguagem. Na pesquisa dos meus livros, eu uso a técnica da reportagem, mas tomo sempre como referência as fontes acadêmicas autorizadas. Ou seja, não tento reinventar a roda nem desautorizar o que os historiadores já produziram na academia. A novidade é que procuro observar os acontecimentos e personagens sob a ótima do jornalismo. O texto é sempre construído com base nas lições que a literatura ensina para capturar e encantar os leitores. Portanto, minha fórmula combina jornalismo e literatura. Um bom escritor precisa ter a habilidade de escolher as palavras para contar uma estória ou transmitir uma ideia. Procuro usar elementos pitorescos da história para atrair a atenção do leitor. Isso explica, por exemplo, os subtítulos dos dois livros. Esse recurso bem humorado é usado com o propósito de provocar o interesse do leitor, como se faz, por exemplo, num título de capa de revista ou numa manchete de jornal.

Meu objetivo ajudar os professores na difícil tarefa de despertar nos estudantes o interesse pela História. Tento facilitar a vida desses estudantes escrevendo em estilo jornalístico, simples e agradável. Importante, no entanto, é não deixar que o livro se limite à caricatura e ao pitoresco. O conteúdo tem de oferecer um mergulho mais profundo ao leitor, mas sem dificultar a linguagem. Essa é uma linha tênue e perigosa. Se o autor ficar só na superfície e na banalidade, o livro não oferecerá contribuição alguma, será irrelevante, especialmente na área da Educação. Se, ao contrário, der um mergulho muito profundo, não conseguirá prender a atender desse leitor menos especializado. Mas entendo também que esse é o desafio permanente do bom jornalista e do bom escritor.

Laurentino Gomes é jornalista e autor dos livros “1808”, sobre a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, e “1822”, sobre a Independência do Brasil.
Texto do site: http://educarparacrescer.abril.com.br/index.shtml

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Prazeres



Prazeres
Bertolt Brecht

O primeiro olhar da janela de manhã

O velho livro de novo encontrado

Rostos animados

Neve, o mudar das estações

O jornal

O cão

A dialética

Tomar duche, nadar

Velha música

Sapatos cómodos

Compreender

Música nova

Escrever, plantar

Viajar, cantar

Ser amável.



terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Insuportável religião cristã

Insuportável religião cristã



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Aos que vierem depois de nós




Aos que vierem depois de nós

Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.



terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2012: ano de resistência e de resiliência






2012: ano de resistência e de resiliência
Leonardo Boff

Os cenários da situação da humanidade, especialmente nos países centrais, são perturbadores. As crises escondem grande padecimento humano, especialmente dos mais vulneráveis dos quais quase ninguém fala.

Face a esta situação devemos resistir e viver a resiliência, vale dizer, aquela atitude de enfrentar com destemor os problemas, dar a volta por cima e aprender dos revezes da vida, pessoal e coletiva.Isso se impõe se a crise geral atingir também nosso pais, o que não é impossível. O importante é não se resignar mas manter a vontade de mudar e crescer. Neste contexto, lembrei-me de um mito antigo da área mediterrânea da Europa por mim já referido em outros escritos.

De tempos em tempos, reza o mito, a águia, como a fênix egípcia, se renova totalmente. Ela voa cada vez mais alto até chegar próxima ao sol. Então as penas se incendeiam e ela toda começa a arder. Quando chega a este ponto, se precipita do céu e se lança qual flecha nas águas frias do lago. Através desta experiência de fogo e de água, a velha águia rejuvenesce totalmente. Volta a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e o vigor da juventude. Seguramente este mito subjaz ao salmo 103 onde se diz: “O Senhor faz com que minha juventude se renove como uma águia”.

Fogo e água são opostos. Mas quando unidos, se fazem poderosos símbolos de transformação. Segundo a psicologia do profundo de C. G. Jung, o fogo simboliza o céu, a consciência e as dimensões masculinas no homem e na mulher. A água, ao contrário, a terra, o inconsciente e as dimensões femininas no homem e na mulher. Passar pelo fogo e pela água significa, portanto, integrar em si os opostos e crescer na identidade pessoal. Ninguém ao passar pelo fogo ou pela água permanece intocado. Ou sucumbe ou se transfigura, porque a água lava e o fogo purifica.

A água nos faz pensar também nas grandes enchentes que temos assistido, estarrecidos, em janeiro de 2011 nas cidades serranas do Estado do Rio, especificamente na minha na qual vivo, Petrópolis. Assistimos aqui a um verdadeiro tsunami que carregou tudo que estava pela frente, matando centenas de pessoas e deixando um sem número de desabrigados. São tragédias, evitáveis mas que acontecem e que devemos enfrentá-las com coragem. O fogo nos faz imaginar as fornalhas que queimam e acrisolam tudo o que não é essencial, deixando ouro ou o ferro puros. São as notórias crises existenciais. Ao fazermos esta travessia dolorosa e purificadora, deixamos aflorar o nosso eu profundo. Então amadurecemos para aquilo que é autenticamente humano. Quem recebe o batismo de fogo e de água rejuvenesce como a águia do mito antigo.

Mas indo diretamente ao assunto: que significa concretamente rejuvenescer como águia? Significa entregar à morte tudo aquilo que de velho existe em nós para que o novo possa irromper e ser integrado. O velho em nós são os hábitos e as atitudes que não nos engrandecem, como a falta de solidariedade para com os pobres, as palavras duras para com os familiares, a vontade de ter razão em tudo, o descuido para com o lixo, o desperdício da água e nossa surdez face ao que a natureza nos quer dizer. Tudo isso deve ser entregue à morte para podermos inaugurar uma forma sustentada de convivência entre os humanos e com os demais seres da criação. Numa palavra, significa morrer para ressuscitar.

Rejuvenescer como águia significa também desprender-se de coisas que um dia foram boas e de ideias que foram luminosas mas que lentamente se tornaram ultrapassadas e incapazes de inspirar o caminho da vida.

Rejuvenescer como águia significa ter coragem para recomeçar e estar sempre aberto a escutar, a aprender e a revisar. Em outras palavras, viver concretamente a resiliência. Não é isso que nos propomos cada ano?

Que o ano de 2012 que acaba de se inaugurar, seja oportunidade de perguntar o quanto de galinha existe em nós que não quer outra coisa senão ciscar o chão ou o quanto de águia ainda há em nós, disposta a rejuvenescer, a desenvolver resiliência e a confrontar-se corajosamente com os tropeços e as crises da vida.




O cristianismo é o pior inimigo do Evangelho parte 3






O cristianismo é o pior inimigo do Evangelho parte 2


O cristianismo é o pior inimigo do Evangelho parte  1